sábado, 27 de maio de 2017

Porto é um rapaz descalço


Cada cidade é o corpo de alguém, cada bairro se encosta aos seus vizinhos, namora a paisagem por onde se debruça, respira um espírito local, uma melodia diferente pela manhã, abraça conversas diferentes ao fim do dia... Cada casa faz parte, reflexo de quem a usa, a habita e convive...

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Ser Oeste Sketcher em Montejunto

11º Encontro

A realidade proporciona uma certa ironia casuística, como se existisse apenas porque alguém a sonhou anos antes, mesmo que todos os elementos nela presentes estejam baralhados.
Confesso que nunca assisti a uma partida tão cheia de imprevistos, mas assim que o comboio se alinhou correu tudo bem.
Quando chegamos à serra, o vento empurrava-nos para os cantos abrigados do convento, alguns escolheram a sombra, outros o sol.
Entre ruínas e paisagem, eu escolhi o alinhamento de antenas no topo do relevo. ...e ao mesmo tempo, o canto abrigado e cheio de sol com a companhia da Rita.


Vou ter de um dia voltar ao convento para o desenhar, em redor existem algumas paisagens fabulosas, fascinam-me aqueles pinheiros talhados pelo vento, ao longo da encosta. 
A manhã passou a correr, tiramos a foto de grupo e avançamos para o parque de merendas, uma bela surpresa para quem não conhecia.
Tínhamos a árdua tarefa de fazer um piquenique, passar pelas brasas e conviver...
Era o lugar ideal para rabiscar pessoas, ainda tentei fazer um apanhado geral do espírito do grupo no piquenique mas distrai-me tanto com a conversa agradável, no fim, muitos já nem la estavam e eu ainda ia pintando algumas cores.


Como estava insatisfeito com o desenho anterior, onde não consegui apanhar todos os sketchers e a Rita no canto do bloco parecia um gremlin transformado, resolvi apanhar com linha toda aquela desarrumação de lápis e pincéis à volta dela, estava mesmo a divertir-se, descalça, de posição irrequieta, sentada ou deitada, a desenhar como se tivesse voltado aos tempos de criança, entre o sonho e a realidade.
Achei interessante, a Rita como "diamante em bruto" (segundo ela) vai pintando com manchas, descomplexada, evitando limites ou regras rígidas, deixa o desenho fluir a partir de uma realidade desfocada, vai definindo e deformando aos poucos, ao sabor do prazer que a atravessa pelo simples acto de desenhar.
Para ela, a linha é demasiado definitiva, segue um processo oposto à minha forma de pensar, onde é difícil desconectar do que academicamente me formatou, voltei ao papel procurando esse "desligar", mesmo mantendo a linha, são estes desenhos rápidos com pouco tempo para pensar que acabam quase sempre por me dar mais prazer. Obrigado Rita.


Foi um belo encontro, tenho a agradecer a todos, em especial, a todos os que fizeram a viagem de longe e ao André Baptista que continua a ser um elemento essencial no espírito do grupo. 
















Ps: Às vezes sabe melhor desenhar e desfrutar do que tirar fotografias, desta vez o registo foi mais fraquinho ;)

domingo, 14 de maio de 2017

Desenhar com Teresa Ruivo

Reparei no Desenhar com Teresa Ruivo enquanto planeava passar por Lisboa. A sua abordagem remete-nos à essência de quem somos e dos detalhes que nos moldam, a nós e aos outros. Achei interessante a sua relação com a escrita, os desenhos fluidos, com muita experimentação e influencia emocional, onde desenhar pode ser isento de exigências gráficas e recurso para nos libertarmos ou nos reconciliarmos com realidade. 
O desenho acaba por ser um pretexto para ligar pessoas, normalmente importa mais o conteúdo ou o acto de desenhar do que o grafismo ou legibilidade do desenho.
O desafio era de desenhar pessoas paradas e em movimento, pela linha, pela mancha e pelas duas. Figuras não é a minha praia e desenhar com mancha ainda é uma novidade inconstante, mas é bom recuperar desafios com um âmbito mais descontraído.
Encontrei um grupo de desenho muito amável e interessado no que cada um arrisca, são todos diferentes e procuram conhecer a paleta de todos, moldam quem são nas diferenças que os atraem.
Obrigado Teresa Ruivo ;)




sábado, 6 de maio de 2017

Oeste Sketchers e Aguarelistas

10º Encontro Oeste Sketchers.
Enquanto decorria o Encontro Internacional de Aguarelas, infiltramo-nos e trocamos ideias com aguarelistas, foi um excelente convívio desde a mesa de café ao banco de jardim.
Alguns pintores procuram desenho e linha, sketchers procuram técnicas de aguarela, aprendem-se técnicas novas e fundem-se olhares.
Ao fim do dia ainda lá estávamos, quando a luz deixa de abafar as formas... entre a cerveja e os pincéis, entre as piadas e as divagações teórico-praticas da pintura.






quinta-feira, 4 de maio de 2017

Literatura e Viajantes IX

Segunda... A complexidade do casario de Óbidos andava a implorar para ser desenhada, como provavelmente seria o ultimo desenho até não aguentar mais dos glúteos (banco de pedra), fiz-lhe a vontade.
Debaixo das Oliveiras a tentação era de sesta, o local era desviado das rotas românticas populares e oculto de olhares, apenas se ouviam os pássaros a cantarolar e os turistas aos berros com medo de cair da muralha ("Que merda! Agarrem-se à parede!").
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Monday ... The complexity of Obidos's houses was begging to be drawn, as it would probably be the last drawing until I couldn't take it any more from the buttocks (stone bench), I did it at will.
Beneath the Olives there was the temptation to do some siesta, the place was diverted from the popular romantic routes and hidden from glances, only the birds were humming and the tourists screaming for fear of falling from the wall ("Fuck! Be close and grab the wall !").


Literatura e Viajantes VIII

Segunda... A rua direita estava enfeitada, perfumada, cheia de verdura no chão, havia rosas à porta das igrejas e namorados como enxames de abelhas à procura de mel, mesmo a precisar de um desenho, claro que não... Era altura de dar atenção à rua traseira, em sombra, abandonada, vazia.
Um exercício de rua descobriu-me, queria colocar a rua inteira no bloco, era praticamente um devaneio de forma fotográfica mas o desenho permite impossíveis.
Começei por desenhar nos extremos do caderno, os enfiamentos opostos da rua e aos poucos juntei-os com distorção, decerto irei repetir...
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Monday... The main street was decorated, perfumed, full of greenery on the floor, there were roses at the door of the churches and couples like swarms of bees looking for honey, a street in need of a drawing, of course not ... It was time to pay attention to the back street, in the shadow, abandoned, empty.
A street exercise discovered me, wanted to put the whole street in the block, was practically a photographic crazyness but the drawing allows impossible things.
I began by drawing at the ends of the notebook, the opposing sides of the street and gradually joined them with distortion, surely I will repeat ...


quarta-feira, 3 de maio de 2017

Literatura e Viajantes VII

Segunda... Depois de ver alguns sketchers bastante longe, atalhei por entre os telhados e voltei a encontrar a Lurdes Morais, estava junto à Igreja da Misericórdia a pintar, tinha ar de estar a batalhar contra o calor.
Já tinha feito postais deste enquadramento e a Igreja passou o fim de semana a desafiar, não era dia de detalhes mas tinha que ser.
Começei a perceber a montanha que tinha pela frente, o detalhe crescia exponencialmente, e o mais difícil era desistir depois de começar. ...fui ficando até ao fim, enquanto os turistas passavam para quebrar o silêncio.
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Monday ... After seeing some sketchers far away, I went through the roofs and found Lurdes Morais again, she was at the Misericordia Church painting and fighting the heat.
I had already done postcards of this framework and the Church spent the weekend challenging it, it wasn't a details day but it had to be done.
I began to notice the mountain that lay ahead, the detail grew exponentially, and the hardest part was to give up after it started. ... I stayed until the end as the tourists passing by were breaking the silence.


Literatura e Viajantes VI

Segunda... Acabei por acompanhar a Sofia Gomes de volta a Óbidos, entrei por uma porta e sai por um postigo, andava à procura dos caminhos onde ninguém passa, queria desenhar o topo da muralha vista do exterior...
Andei por trilhos repletos de vegetação, ao inicio não se viam as muralhas mas ouviam-se, crianças e turistas aos berros ("- Parem lá com essa merda!").
Como o espírito não queria detalhes, fiz uma panorâmica rápida, entornei-lhe pigmentos em cima e segui o trilho até o relógio interno me chamar para almoçar.
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Monday ... I ended up following Sofia Gomes back to Óbidos, I went through a door and went out through a wicket, I was looking for the paths where nobody passes and draw the top of the wall from the outside ...
I walked along trails full of vegetation, at first the walls were not seen but heard, children and tourists screaming ("Stop it with that shit!").
As the spirit did not want details, I made a quick sketch, sprinkled pigments on it and followed the trail until the internal clock called me to lunch.


terça-feira, 2 de maio de 2017

Literatura e Viajantes V

Domingo... Depois de uma boa conversa com aguarela fora de controlo, resolvi desenhar o arco sobre a rua visto do topo da travessa. Um enquadramento com histórias, onde os fantasmas e as memórias vão falar entre garrafas e copos.
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Sunday ... After a good conversation with watercolor out of control, I decided to draw the arc over the street seen from the top. A story frame, where the ghosts and memories talk and taste a delicious drink.


Literatura e Viajantes IV

Domingo... Depois de algumas corridas a fugir de chuva incerta, eu e a Lurdes Morais acabamos por nos abrigar na Casa da Cadeia, um Bar "Medieval" no grande arco sobre a rua, visível das costas da Igreja de Santa Maria.
Os detalhes interiores eram aliciantes mas a decisão foi arrebatada pelas almofadas dos cadeirões exteriores.
Ficamos ali com café e chocolate quente a pintar, iniciei um caderno que tinha feito e perdi-me demasiado com a aguarela...
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Sunday ... After a few escapes from some rain, me and Lurdes Morais got some shelter in "Casa da Cadeia", a "Medieval" Bar under a large arch over the street.
The interior details were appealing but the decision was taken by the cushions of the outer armchairs.
We got a coffee and hot chocolate, I started a new selfmade book and got lost in watercolors ...


segunda-feira, 1 de maio de 2017

Literatura e Viajantes III

Domingo... O dia estava traiçoeiro, uma mistura de sol, nuvens, chuva e vento. Queria desenhar Óbidos ao longe, fui de comboio e andei na mata tentando um desenho de viagem, já com algum atraso para o encontro de sketchers e com chuviscos, desisti varias vezes de desenhos salpicados e encharcados... Acabei por ceder e abriguei-me dentro da vila para mais uma panorâmica desafiante...
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Sunday ... The day was treacherous, a mixture of sun, clouds, rain and wind. I wanted to draw Óbidos in the distance, I went by train and walked in the woods trying to draw a trip, already with some delay for the meeting of sketchers and with drizzles, I gave up several times with splattered and soaked drawings ... I ended up giving in and took shelter within the village for another challenging panoramic ...